Lúcia Gaspar
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
É um conjunto instrumental de percussão e sopro, dos mais antigos,
característicos e importantes da música folclórica brasileira. Historicamente o
pífano remonta à época dos primeiros cristãos, que tinham no pífano, pifes ou
pífora, uma maneira de saudar a Virgem Maria nas festas natalinas. Na feição
nordestina a banda de pífanos é uma criação do mestiço brasileiro, que com sua
criatividade e intuição musical adaptou o instrumental, dando-lhe a forma
típica pela qual é conhecida no folclore brasileiro.
Por toda a região Nordeste do
Brasil e nos estados de Minas Gerais
e Goiás são usados várias termos para denominar o conjunto: Banda de
Pífanos, Banda de Pife, Música de Pife, Zabumba, Cabaçal, Esquenta-Mulher,
Banda de Negro, Terno, Banda de Couro (Goiás), Musga do Mato,
Pipiruí ( Minas Gerais).
Assim como a sua denominação varia, a sua composição também tem
sensíveis diferenças, mas seus instrumentos básicos são dois pífanos, um surdo,
um tarol e um bombo ou zabumba.
Em Pernambuco, é composta por dois pífanos, uma caixa, um bombo, um
surdo e um tambor.
Em Alagoas, além dos instrumentos básicos acrescenta-se um par de pratos
e em certos grupos um triângulo e até um maracá para maior sonoridade.
No Ceará, também acrescentam-se prato e triângulo e em Sergipe o
triângulo e o ganzá.
Em Goiás, a Banda de Couro, como é chamada, é composta por bombo, caixa
ou tarol e viola.
O pífano é o comandante da banda. É um instrumento semelhante à flauta,
feito de taquara, uma madeira muito comum nas matas do sul de Pernambuco. É
encontrado em três tamanhos: 65cm a 70cm, chamado Régua Inteiro,
50cm, oTrês Quartos e o de 40cm, Régua Pequena. O som
do pífano muda de acordo com o tamanho. Cada pífano tem sete orifícios, sendo
seis para os dedos e um para os lábios (sopro). O segredo, tanto da confecção
quanto da execução do pífano, é passado de pai para filho.
Os componentes das bandas são, na sua maioria, trabalhadores rurais que
se ocupam da agricultura de subsistência, trabalhando no "alugado",
ou cultivando sua pequena roça. Reúnem-se antes de cada apresentação e repassam
o repertório. Não têm formação musical e tudo o que tocam é de ouvido. Entre as
músicas mais executadas estão Asa Branca, Valsa, Mulher Rendeira, A
Briga do Cachorro com a Onça, Sabiá, Guriatã de Coqueiro, A Ema Gemeu no Pé do
Juremá, entre outras. Há várias bandas de pífanos pelo Nordeste, mas
uma das mais conhecidas é a de Caruaru, fundada pelos irmãos Biano, Sebastião e
Benedito, em 1924, que já tocou até para Lampião em Tacaratu, quando o cangaceiro foi pagar uma
promessa.