Alguma coisa, né? Minha primeira música eu fiz com nove
anos de idade. Minha mãe estava matando uma galinha e eu
fiquei perguntando os nomes dos pedaços, que na época a gente
chamava de 'taco'. Quando ela terminou eu fiz a embolada da pinta:
'eu nunca vi uma pinta daquela, a minha mãe matou a pinta pra fazer a
cabidela'. Tempos depois, eu cheguei em Garanhuns e me descobriram.
LJ - O senhor chegou a ficar um tempo parado, mas voltou
pra música. Qual o motivo?
Eu passei um tempo fora de ação, eu não queria nem cantar
mais - não houve um motivo específico - , mas fui obrigado. Eu não queria,
mas o povo queria. E quando eu voltei, subi no palco sem nem saber o que
ia cantar. Mas eu sou repentista e o repente é um dom de Deus.
LJ - Depois de toda esta trajetória, aos 82 anos o senhor
está gravando o seu primeiro CD. Era um sonho seu?
Eu perdi muito tempo sem gravar porque eu gravava muito
jingle político. Até uns sete anos atrás, os candidatos se valiam
dos repentistas e dos cantadores para fazer a propaganda política.
E eu fiquei o tempo todo envolvido em fazer isso e não me liguei na
gravação. Agora, eu com 82 anos e ainda aparecer alguém patrocinando uma
gravação pra mim (o CD está sendo patrocinado pelo programa Rumos Cultural
do Itaú), é uma boa oportunidade pra eu deixar o meu trabalho aí para os
meus seguidores.
LJ - O senhor está cercado de músicos muito jovens. Como
é esta convivência entre gerações?
É boa e é onde eu me sinto bem. O que eu sei, eu estou
deixando para os que estão chegando agora. Então eles podem herdar
esta raiz e começar a explorar. Por exemplo, Jackson do Pandeiro,
tem muita gente ganhando em cima dele; Luiz Gonzaga, muitos
gravam Luiz Gonzaga e ganham também. É isso que vai acontecer na
linha do coco com o Galo Preto e outros que já se foram. Como Selma
do Coco e Zé Neguinho, já se foram, mas deixaram um trabalho. E
eu vou deixar o meu também.
LJ - O que o senhor acha da nova geração do coco, dos
grupos atuais que estão aparecendo?
Todo pessoal que faz coco, geralmente é coisa que vem dos
avós, dos pais, está no sangue. Estava muito parado porque não
havia incentivo. Agora o coco tomou impulso, graças a Selma do
Coco que gravou aquela música (A Rolinha) que caiu na graça do povo,
aí acordou o coco. O coco estava dormindo e Selma acordou. Agora, está
havendo por aí muita imitação, muita coisa que não é autêntica. Mas não
deixa de ser coco.
LJ - E finalizando o CD, quais os próximos projetos?
Vou fazer um lançamento em São Paulo e um aqui no Recife.
E daí, vamos ver o que vai acontecer. Se alguém me convidar pra
uma turnê... Eu já venho fazendo uns shows por aí.