"O mundo nos dá lixo, nós retribuímos com música". Não se trata de um slogan, mas da pura verdade. A Orquestra de Instrumentos Reciclados, surgida na favela de Cateura, na periferia de Assunção, Paraguai, é a primeira no mundo a nascer de... detritos
Ana Meza, 16 anos, toca
violino durante ensaio da
Orquestra de Instrumentos Reciclados de Cateura
O
cenário é o de Cateura, favela que cresceu ao redor de um aterro sanitário na
periferia de Assunção, Paraguai. Jovens moradores desse lugar de extrema
pobreza descobrem possuir vocação musical, graças a um professor, Flávio
Chavez, e a um músico, Luis Szaran. Os dois decidem criar uma orquestra com os
garotos de Cateura.
Os moradores recebem a ideia com entusiasmo, mas... como arranjar dinheiro para comprar instrumentos musicais? E acontece a surpresa: numa das ruelas da favela mora Nicolas Gomez, um artesão capaz de fabricar instrumentos com peças encontradas no entulho.
E a música aparece, como mostram os dois vídeos abaixo. O primeiro vídeo é a introdução a um documentário que está sendo produzido e que, em poucos dias, conseguiu obter 214 mil dólares de doações feitas por usuários da rede através do site de crowdfunding Kickstarter. Parte da soma obtida será usada para terminar o documentário. O que sobrar servirá para ajudar a bancar um tour da Orquestra de Instrumentos Reciclados
Os moradores recebem a ideia com entusiasmo, mas... como arranjar dinheiro para comprar instrumentos musicais? E acontece a surpresa: numa das ruelas da favela mora Nicolas Gomez, um artesão capaz de fabricar instrumentos com peças encontradas no entulho.
E a música aparece, como mostram os dois vídeos abaixo. O primeiro vídeo é a introdução a um documentário que está sendo produzido e que, em poucos dias, conseguiu obter 214 mil dólares de doações feitas por usuários da rede através do site de crowdfunding Kickstarter. Parte da soma obtida será usada para terminar o documentário. O que sobrar servirá para ajudar a bancar um tour da Orquestra de Instrumentos Reciclados
Durante
os ensaios da Orquestra de Reciclados, basta ouvir e olhar ao redor para
entender – não sem um certo espanto. O sons de uma guitarra clássica provêm de
duas grandes latas de goiabada justapostas. Uma máquina de raio-X usada serve
de base para um conjunto de percussão.
Uma velha saladeira de alumínio e cordas afinadas com pedaços do que já foi uma mesa elegante se transformaram em um violino. Tampas metálicas de garrafas de cerveja funcionam perfeitamente bem como chaves para um saxofone.Composta de 20 crianças e adolescentes, a orquestra de câmera usa esses e outros instrumentos confeccionados a partir de materiais reciclados encontrados em um aterro sanitário de onde os seus pais tiram o sustento como catadores de lixo.
Da orquestra e seus instrumentos a música que se ouve é a de Beethoven e Mozart, Vivaldi e Bach, Henry Mancini e os Beatles. Às vezes há também incursões no repertório de Frank Sinatra e no das polcas e guarânias paraguaias.
Uma velha saladeira de alumínio e cordas afinadas com pedaços do que já foi uma mesa elegante se transformaram em um violino. Tampas metálicas de garrafas de cerveja funcionam perfeitamente bem como chaves para um saxofone.Composta de 20 crianças e adolescentes, a orquestra de câmera usa esses e outros instrumentos confeccionados a partir de materiais reciclados encontrados em um aterro sanitário de onde os seus pais tiram o sustento como catadores de lixo.
Da orquestra e seus instrumentos a música que se ouve é a de Beethoven e Mozart, Vivaldi e Bach, Henry Mancini e os Beatles. Às vezes há também incursões no repertório de Frank Sinatra e no das polcas e guarânias paraguaias.
Rocio
Riveros, 15 anos, diz que levou um ano de estudos para aprender a tocar sua
flauta, feita de pequenas latas soldadas. "Agora, já não posso mais viver
sem essa orquestra", ela diz.
Correm
mundo as notícias sobre esses garotos músicos de Cateura – uma vasta favela na
periferia de Assunção, onde 25 mil famílias muito pobres sobrevivem como
catadores de lixo.impossível para que possam viajar para fora do Paraguai, para que possam ser reconhecidas e admiradas", diz Flávio Chávez, um assistente social e professor de música que deu início à formação da orquestra.
A
conexão com o museu norte-americano foi feita pela cineasta documentarista
paraguaia Alejandra Amarilla Nash. Ela e a produtora Juliana Penaranda-Loftus
acompanharam as movimentações da orquestra nos últimos anos, para a produção do
documentário "Landfill Harmonic", realizado com extrema carência de
recursos.
O documentário ainda não está completo. Mas há poucos meses as cineastas criaram uma página no Facebook e publicaram um curto trailer no You Tube e no Vimeo que se tornou viral, obtendo rapidamente mais de um milhão de acessos.
Quatro jovens membros da orquestra de câmera,
todos eles moradores da favela de Cateura
Transformar o sonho em realidade
A
comunidade de Cateura não poderia ser mais marginalizada. Mas a música que vem
do lixo agora faz com que essas famílias acreditem num futuro diferente para
seus filhos.
"Graças
à orquestra, estivemos no Rio de Janeiro. Tomamos banho de mar, fomos às praias
de Copacabana e Ipanema. Nunca pensei que meus sonhos iriam se tornar
realidade", diz Tânia Vera, 15 anos, violinista que vive num barraco à
beira de um riacho que serve de esgoto para a comunidade.
A
mãe de Tânia Vera sofre de várias moléstias, seu pai abandonou a família, e sua
irmã mais velha deixou a orquestra após engravidar. Tânia persiste, e agora
quer ser também médica veterinária, além de instrumentista musical.
A
orquestra é fruto da imaginação de Chavez. Esse idealista de 38 anos abriu uma
escolinha de música há cinco anos em Cateura. Sua esperança era conseguir
manter pelo menos alguns jovens fora do mundo das drogas e da delinquência. Mas
ele possuía apenas cinco instrumentos para compartilhar, muitas vezes parte dos
jovens que vinham às aulas não podiam sequer praticar. Foi aí que Chavez
pediu a um dos catadores de lixo, Nicolas Gomez, para fazer alguns instrumentos
a partir de materiais recicláveis, de modo a manter as crianças
ocupadas. "Só frequentei a escola até a 5ª série, e depois tive de
trabalhar como quebrador de pedras em uma pedreira", diz Gomez, 48 anos.
Mas "se alguém me der instruções precisas, sou capaz de construir um
helicóptero!"
Em
abril último, vários instrumentos que Gomez criou foram exibidos no Museu dos
Instrumentos Musicais, em Phoenix, Arizona, ao lado dos pianos de John Lennon e
das guitarras de Eric Clapton.
"Um
novo sentido para minha vida", é o que afirma Ada Rios, violinista de
apenas 14 anos e dona de um grande sorriso. "A Orquestra de Instrumentos
Reciclados realmente mudou os rumos da minha existência. Em Cateura,
infelizmente, a maior parte dos jovens não tem oportunidade de estudar, porque
têm de trabalhar para ajudar as famílias, ou então caem muito cedo no vício do
álcool e das drogas". Para ela, e para quase todos os demais membros da
Orquestra, a música representou um caminho de salvação.
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