Uma valsa embalou o último
encontro do ídolo Ariano Suassuna com fãs anônimos. Romântica, celebrava
sonhos, emoções e o amor. Os amigos da Associação dos Músicos de Bom Conselho
(AMABC), município Agreste de Pernambuco, esperaram por anos pelo abraço, pela
foto que eternizasse a proximidade com o mestre. Conseguiram. Para homenageá-lo
e serem afagados por um dos homens que os inspiraram na propagação da arte
musical, no último sábado entoaram Fascinação, conhecida na voz de Elis Regina.
Ariano estava hospedado no
Hotel Tavares Correia, após uma aula-espetáculo no Festival de Inverno de
Garanhuns (FIG), quando uma pequena comitiva autorizada pela assessoria do
escritor chegou ao encontro dele “Esperamos tanto por esse momento. Não sabíamos
que ele adorava essa música. Quando o maestro Francisco Aguiar começou a tocar
o clarinete, Ariano abriu um sorriso e perguntou: como vocês sabiam?”, contou
Carlos Alberto de Oliveira, produtor cultural e presidente da AMABC.
O título de sócio benemérito
da instituição, honraria aquele que tanto incentivava e fomentava o
desenvolvimento da cultura regional, foi entregue na ocasião para Ariano. O hino
do Carnaval de Zé Puluca, festividade promovida pela instituição há quase cinco
décadas e da qual Ariano era tido como patrono, foi apresentado pelo
maestro Francisco Aguiar, e pelo musicista Danilo Aquino, com o seu saxofone.
Uma ode á diversidade em quatro composições, como Ariano gostava, simples,
feito ele.
Acreditavam os filiados da
AMABC que aquela seria uma prévia da prometida aula de Ariano em Bom Conselho. “Estava
tudo certo”, confirmou Carlos, em entrevista concedida uma hora antes do
anúncio da morte. A expectativa era grande. Ela já tinha sido marcada outra
vez. No ano passado, a culpa foi do infarto. No blog carnavaldezepuluca.blogspot.com.br,
as solicitações para que a aula acontecesse e o retorno do gabinete de Ariano
viraram até postagens. O agravamento do estado de saúde de Ariano seguia o mesmo
modelo e era relatado para os leitores, como o patrono merecia. “Desta vez, desde
que soube do AVC, na terça bem cedo, fiquei deprimido e triste. Você precisava
ver como ele estava no sábado passado. Firme, sorridente, forte ...” narrou o
presidente e admirador do escritor”. “Meu
amor por ele tem uma razão de ser: vem da paixão de Ariano pela cultura do
nosso povo”.
Do interior a metrópole, do
Nordeste ao Sudeste, tinha fâs. E distribuía simpatia com o jeito de falar
popular e acenos. Agradava muitos pela forma colonial com quem falava, ou pela
autenticidade das declarações. Ficarão muitas delas. Em reuniões políticas de
figurões, agia do mesmo modo Ariano era Ariano.
Por onde andava, se via
gente querendo fotografá-lo, pegando autógrafo ou apontando para ele. Era celebridade
nacional da categoria dos gênios (só não o definisse e não o defina como “popstar”porque,
avesso ao estrangeirismo, ria da expressão. Era figura da espécie dos que,
quando morre, um séquito de admiradores procuravam, frase, palavras para falar
sobre ele.
Fonte: Silvia Bessa - Diário de Pernambuco - Caderno Especial - Auto de Ariano - Fls,11 - publicado em 24/07/2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário