Um dos maiores coquistas pernambucanos, Patrimônio Vivo do Estado, grava seu primeiro CD após mais de sete décadas de carreira
Tomaz
Aquino Leão fez sua primeira embolada aos nove anos, na beira do fogão de
sua mãe, na casa onde moravam em Bom Conselho de Papacaças - Agreste
pernambucano. Desde então, não parou mais de embolar; tendo passado por
importantes programas da televisão nacional e principais palcos do Brasil,
tornou-se o Mestre Galo Preto - hoje reconhecido como Patrimônio Vivo de Pernambuco. Agora, aos 82 anos de
idade, mais de 70 de carreira, Galo Preto entrou no estúdio para gravar
seu primeiro CD e deixar registradas, para esta e futuras gerações, sua
arte e grande sabedoria musical.
O
disco, com previsão de lançamento para novembro deste ano, terá 12 faixas
autorais que trazem o autêntico coco, com direito a arranjos feitos apenas
com pandeiros, sanfona e o tradicional coco de trava língua, difícilmente
executado hoje em dia. Para a gravação deste trabalho, Galo Preto se
rodeou de jovens músicos e, conta também, com a parceria das filhas e de
uma sobrinha. O Mestre conversou com o Portal LeiaJá sobre esta fase da
carreira e sobre os planos futuros.
LJ - Mestre, já são 73 anos fazendo coco. O senhor já fez
muitas coisas, não é?
Alguma coisa, né? Minha primeira música eu fiz com nove
anos de idade. Minha mãe estava matando uma galinha e eu
fiquei perguntando os nomes dos pedaços, que na época a gente
chamava de 'taco'. Quando ela terminou eu fiz a embolada da pinta:
'eu nunca vi uma pinta daquela, a minha mãe matou a pinta pra fazer a
cabidela'. Tempos depois, eu cheguei em Garanhuns e me descobriram.
LJ - O senhor chegou a ficar um tempo parado, mas voltou
pra música. Qual o motivo?
Eu passei um tempo fora de ação, eu não queria nem cantar
mais - não houve um motivo específico - , mas fui obrigado. Eu não queria,
mas o povo queria. E quando eu voltei, subi no palco sem nem saber o que
ia cantar. Mas eu sou repentista e o repente é um dom de Deus.
LJ - Depois de toda esta trajetória, aos 82 anos o senhor
está gravando o seu primeiro CD. Era um sonho seu?
Eu perdi muito tempo sem gravar porque eu gravava muito
jingle político. Até uns sete anos atrás, os candidatos se valiam
dos repentistas e dos cantadores para fazer a propaganda política.
E eu fiquei o tempo todo envolvido em fazer isso e não me liguei na
gravação. Agora, eu com 82 anos e ainda aparecer alguém patrocinando uma
gravação pra mim (o CD está sendo patrocinado pelo programa Rumos Cultural
do Itaú), é uma boa oportunidade pra eu deixar o meu trabalho aí para os
meus seguidores.
LJ - O senhor está cercado de músicos muito jovens. Como
é esta convivência entre gerações?
É boa e é onde eu me sinto bem. O que eu sei, eu estou
deixando para os que estão chegando agora. Então eles podem herdar
esta raiz e começar a explorar. Por exemplo, Jackson do Pandeiro,
tem muita gente ganhando em cima dele; Luiz Gonzaga, muitos
gravam Luiz Gonzaga e ganham também. É isso que vai acontecer na
linha do coco com o Galo Preto e outros que já se foram. Como Selma
do Coco e Zé Neguinho, já se foram, mas deixaram um trabalho. E
eu vou deixar o meu também.
LJ - O que o senhor acha da nova geração do coco, dos
grupos atuais que estão aparecendo?
Todo pessoal que faz coco, geralmente é coisa que vem dos
avós, dos pais, está no sangue. Estava muito parado porque não
havia incentivo. Agora o coco tomou impulso, graças a Selma do
Coco que gravou aquela música (A Rolinha) que caiu na graça do povo,
aí acordou o coco. O coco estava dormindo e Selma acordou. Agora, está
havendo por aí muita imitação, muita coisa que não é autêntica. Mas não
deixa de ser coco.
LJ - E finalizando o CD, quais os próximos projetos?
Vou fazer um lançamento em São Paulo e um aqui no Recife.
E daí, vamos ver o que vai acontecer. Se alguém me convidar pra
uma turnê... Eu já venho fazendo uns shows por aí.
Fonte: http://www.leiaja.com/cultura/2016/08/23/galo-preto-faz-1o-registro-do-seu-trabalho-aos-82-anos/
